segunda-feira, 28 de abril de 2008

Um poema - II

O SOBRENATURAL

O sobrenatural
Se esconde embaixo da cama
Espelhos e cortinas
Vozes, sopros, aparições
Vindas de outras dimensões
- É sina.

São segredos de Deus
Que rebentam na escuridão
Em noite de lua cheia
Ou dia de procissão
Nos terços das beatas
Milagres, ritos e meditação

Seriam também anjos
Ou almas que vagam sofridas
em rastros de temor
Mas se uma alma vive em ti
Somos iguais no medo e na dor

O sobrenatural
Paira sobre o natural
É o óbvio que não se enxerga
O acontecimento que prevemos
E depois do acontecido, descremos

Se é somente alucinação
Engodo, medo sem explicação
Ainda assim o sobrenatural vive em nós
E negá-lo, aniquilá-lo
Seria calar sua própria voz.


Julia Lima

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Um poema

MORTE E VIDA

Viveria para morrer
Se a morte fosse celebrada
Como um começo
E recomeço
De girassóis a nascerem
Num túmulo sem endereço

Viveria para morrer
Se a morte fosse serena e bela
Esboçada num sorriso
Como a brisa da janela
Na derradeira casa em que vivi

Viveria para morrer
E renascer
Mil vezes mais
Do que cada célula do meu corpo
Pudesse contar sobre mim
Antes que tudo desaparecesse
E retornaria, enfim

Viveria para morrer
Sem agonia
Ou êxtase
Mas apenas a sabedoria
De viver o presente que a vida nos dá

Viveria para morrer
Se assim tivesse de ser
Para então compreender
O que é a vida.


Julia Lima